quarta-feira, 11 de maio de 2011

FRAGMENTO ROMANCEIRO

           Por certo alguma magia vem na essência do olhar. Olhares sinceros são luzentes, molhados, falantes... Caprichos de noite larga, lua linda, grilo canta, e a mirada se cruza como um balaço no peito, feito um soprar de vento inverneiro, arrepiando a espinha até daquele que se diz mais forte. Romanceiro é o olhar do dia chamando a noite num fim de tarde... Romanceiro é o acariciado de sanga numa flor que se perdeu em seu leito... Romanceiro é o pé no estribo, é a mão na rédea, é poncho no ombro, é um beijo de mate... Romanceiros são os tempos, alicerces de uma história de mão dada, um tempo puxando o outro, pra que nada se perca, onde a esperança rebrote naqueles que tem por memória o rico saber ancestral. Ressurgindo causos ao de redor do fogo, ressurgindo rimas na guela afinada, ressurgindo notas na madeira gasta de uma guitarra crioula.
O calor do amor latente, resseca os lábios serrados, a mão suando na face, o coração retumbando... Na sina de romanceiro os braços perdem a força, tudo no más se congela quando os olhares se encontram. É lindo ver o simplório, envolto de borboletas, ao circundar quem se ama. Na chama que não sapeca, mas que aquece o peito leve... Vem o toque pelos dedos, a pele encontrando a pele num perfume temperado, que se espalha em meio a cerração de uma estação gelada. Um notório “fragmento” romanceiro que os invade por inteiro, no sentido companheiro de um beijo recém colhido. Uma rosa deslumbrante que se esqueceu dos espinhos – é enfeite em meio à trança -, o lencito colorado relíquia de um tetravô da o sinal – rubro – de amor.
De regresso vão ao vento, os olhares tão luzentes, molhados, falantes... Num romanceiro ritual de buscar o que se alcança, da morena linda trança, do peão o rubro lenço...
Num ritual de poesia, aromando a noite larga, vislumbrando a noite linda. Na serenata dos grilos os olhares se cruzaram e assim perpetuaram um romance campesino. Era frio naquele dia, era linda a Maria, era guapo Don José... Romanceiros primitivos, simplórios e destemidos, buscaram os “fragmentos” para unir seus corações.

Um comentário:

  1. Rafael,
    adorei conhecer teu blog.
    Espero que sigas postando teus fragmentos!
    bj

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